Logística Lean: filosofia para eliminação de desperdícios no setor

Resumo: A logística lean, por meio de um conjunto de princípios, conceitos e ferramentas objetiva identificar as atividades que agregam valor para os clientes e eliminar os desperdícios nos processos logísticos e gestão de cadeia de suprimentos. A filosofia, tem sido empregada em empresas como a Antilhas e Mary Kay, que após a implementação em suas operações obtiveram resultados significativos que derivaram a redução de custos, conduziram a ganhos em produtividade e as tornaram mais competitivas no ambiente corporativo.

Palavras-chaves:  Logística Lean, Desperdícios, Valor, Melhorias

1. Introdução

A logística é responsável pelas atividades de planejamento, operação e controle de todo o fluxo de mercadorias e informações, que se inicia na aquisição da matéria prima até o consumo final, quando chega ao consumidor (MARTINS; ALT, 2009). Para Robles (2001), sua missão pode ser melhor entendida a partir do que ficou convencionado como os 7C’s (de sete certos) da logística, ou seja, garantir a disponibilidade do produto certo, no lugar certo, no tempo certo, na qualidade certa, na quantidade certa, com o custo certo e para a pessoa certa. 

Nas organizações, ela é considerada como um dos elementos chave de crescimento, isso porque ao longo dos anos houve um aumento no número de produtos sendo produzidos e consumidos pela população. De acordo com Faria e Costa (2007), sua importância nos negócios de uma empresa é devido ao fato de que se bem gerenciada, ela possibilita oferecer ao cliente um nível superior de serviço, reduz custos e traz melhoria na rentabilidade, em razão disso, a logística é um recurso estratégico para alcançar e manter vantagem competitiva no mercado.

2. Referencial teórico

2.1 A Logística Lean ou Logística Enxuta

A Logística Lean é um conceito que vem sendo cada vez mais utilizado na gestão dos processos logísticos e de gestão de cadeia de suprimentos de empresas e operadoras. Esse conceito é baseado no sistema de produção enxuto da Toyota, proposto por Eiji Toyoda e Taiichi Ohno, durante o período de reconstrução do Japão, após a Segunda Guerra Mundial, com a adoção de um conjunto de novas práticas para a produção que objetivava entre outros, a eliminação dos desperdícios (WOMACK et al., 1992). 

2.2. Os 8 desperdícios na Logística Lean

Segundo os princípios do Lean, desperdício é tudo que não gera valor sob o ponto de vista do cliente, ou seja, são atividades que acabam consumindo recursos em forma de dinheiro, tempo ou esforço, mas que não geram valor para o cliente. Santos (2018), relata que na filosofia há um esforço para a eliminação ou redução de oito diferentes tipos de desperdícios, detalhados a seguir:

Quadro 1 – Desperdícios da Produção Enxuta 

2.3 Princípios fundamentais e ferramentas da filosofia 

De acordo com Lean Institute Brasil (2017), a filosofia lean considera que a única maneira para obter melhores resultados nas organizações é através da melhoria de todos os processos das organizações (produtivos, administrativos, de negócio e estratégicos), Womack e Jones no livro “ A Mentalidade Enxuta nas Empresas” propuseram cinco princípios fundamentais que orientam na análise de processos de qualquer natureza:

  • Valor: processos lean deixam explícito o valor que deve ser oferecido aos clientes, portanto quem define valor é o cliente. O que não agrega valor ao cliente é considerado desperdício;
  • Fluxo de valor: no lean os fluxos dos processos são otimizados desde a necessidade dos clientes até a entrega, essa análise permitirá identificar quais processos não agregam valor ao cliente, para serem ser eliminados ou reduzidos;
  • Fluxo contínuo: na prática da filosofia, os processos lean são realizados em fluxo contínuo, ou seja, sem que haja interrupções, isso possibilita que a identificação do valor seja expandida, elimina filas e permite produzir em conformidade com o ritmo da demanda;
  • Produção Puxada: depende do que está sendo demandado pelo cliente, ou seja, os processos andam conforme a demanda real dos clientes, eliminando a produção em excesso; 
  • Perfeição (Melhoria Contínua): no lean não há uma limitação em definir apenas como as atividades serão realizadas, na filosofia são utilizados mecanismos na busca de melhorias contínuas, que sejam cada vez mais sejam eficazes.

Entre as principais ferramentas utilizadas para a implementação da filosofia, Equi e Pissaia Jr (2016), citam:

  • Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV) ou Value Stream Mapping (VSM): visa identificar os fluxos de materiais e de informações à medida em que o produto e/ou serviço segue o seu fluxo de valor para atingir um fluxo contínuo, levando em consideração as necessidades dos clientes, o que permite identificar os desperdícios para eliminá-los do processo;
  •  Programa de qualidade 5S: objetiva melhorar as condições de trabalho, criar um ambiente de qualidade, estimulador, agradável, seguro e produtivo, por meio da aplicação dos sensos de utilização, organização, limpeza, padronização e autodisciplina, através da mudança de costumes e hábitos antigos;
  • Just-in-time: é um sistema baseado na demanda que objetiva produzir a quantidade exata de um produto sem a necessidade da formação de estoques, de forma que cada processo receba o item específico, no momento necessário e em sua  devida quantidade;
  • Kanban:  está baseado em referências visuais, é um sistema de controle da produção, por meio da utilização de cartões com cores ou tamanhos diferentes, a redução e controle dos estoques estão entre suas vantagens de utilização.

Contudo, é importante destacar, que a filosofia não se resume a aplicação de uma ou mais ferramentas, os princípios do lean devem ser compreendidos em sua essência, e não apenas através do emprego de ferramentas típicas que geralmente são atribuídas a cada um deles, para então alcançar a totalidade de resultados com a implementação da filosofia (LEAN INSTITUTE BRASIL, 2017). 

Quais os ganhos ao utilizar o lean na logística?

Segundo Cardoso (2016), alguns dos resultados obtidos após a implementação do lean são: o aumento de produtividade de 20 a 30%, redução de estoques de 40 a 50%, melhoria no índice de entrega de 20 a 30%, aumento dos lucros em torno de 30 a 40%, melhoria nos índices de qualidade de até 40% e satisfação dos funcionários de 30 a 40%.              

Uma vez conhecidos os ganhos por meio do lean, as empresas têm implementado a filosofia em suas operações, empresas como a Nestlé, Embraer, Coca Cola e a Nivea, que tiveram resultados consideráveis em relação a redução de custo, de estoque e desperdícios, bem como ganhos relacionadas a produtividade (CARDOSO, 2015). Abaixo serão explorados os cases de sucesso da Antilhas e da Mary Kay:

ANTILHAS – Segundo Cardoso e Bragatto (2016), a implementação do lean na empresa do ramo de embalagens ocorreu em um centro de distribuição, onde foi definido que um projeto piloto seria a melhor forma de começar com os trabalhos na empresa. Alguns dos resultados obtidos:  

  • O indicador de entrega no prazo passou de 78 para 98,5 atingindo uma melhoria de 26,3%;
  • Melhorias no fluxo de pessoas e localização dos materiais;
  • O indicador que mede a área de separação (m²) teve um percentual de melhoria de 75%, a área de separação passou de 2000m² para 500 m²;
  • O tempo de espera do caminhão melhorou 90%, passando de até 10h para 1h; 
  • Os processos passaram a ser todos padronizados, o que facilitou a gestão e o acompanhamento;
  • Houve um aumento no engajamento da equipe, que permitiu que a transformação lean acontecesse cada vez mais de maneira intensa;
  • O indicador de produtividade na separação (volumes/homem/hora) obteve uma melhoria de 140%;
  • Com relatórios horários, diários, semanais e mensais, a alta administração recebe informações on-time sobre o que acontece na operação;
  • Em consequência dos relatórios recebidos de hora em hora, os problemas que acontecem são solucionados com maior agilidade, pois os gerentes e líderes tomam conhecimento em no máximo uma hora para os solucionar.

MARY KAYDe acordo com Fonseca e Cardoso (2020), a logística enxuta ajudou a fabricante de cosméticos a melhorar e expandir seus negócios. O processo de implementação ocorreu em cinco etapas:  projeto piloto, expansão para outras áreas, construção do gerenciamento diário, avanço na conexão com os fornecedores e a expansão do lean além da operação logística. Alguns dos resultados obtidos:  

  • Redução de 80% no tempo de recebimento em comparação ao estado original antes do lean (antes ocorriam desperdícios durante o processo de recebimento, onde foi observado que não havia fluxo no processo, o que provocava espera e ampliava o tempo de armazenagem);
  • Aumento de 86% para 98% do indicador de FCR 24h, responsável por medir a capacidade de resolução de casos em 24h;
  • Redução significativa do lead time para alguns itens selecionados de 7 meses de média para apenas 2, o que permitiu uma redução significativa dos estoques;
  • Redução de 6h do tempo de indisponibilidade do sistema de entrada de pedidos;
  • Redução do tempo de análise de fraudes em mais de 90%;

3. Conclusão

Mediante o exposto, pode-se concluir que o Lean é mais que uma metodologia, seus princípios influenciam na maneira de pensar e agir dentro das empresas. Problemas comumentemente encontrados em um sistema logístico relacionados a excesso de estoque, movimentação, separação, endereçamentos, conferências, carregamentos, falta de planejamento de rotas, atrasos, falhas nas entregas, subutilização de recursos e retrabalhos, podem ser solucionados com a implementação da filosofia, pois ela proporciona a eliminação de processos ineficientes, que geram apenas custos e retardam os resultados.  Além disso, a partir da logística enxuta é possível solucionar os problemas de maneira sistemática para obter melhorias nos processos, permitindo aumentar o valor agregado, otimizar tempo e eliminar os desperdícios, fazendo isso sempre com foco nas pessoas e para as pessoas.

REFERÊNCIAS
CARDOSO A. Aumento da produtividade dos CDs com a Logística Lean – LogConference. (2020). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3z21MnucePc&t=1549s. Acesso em: 28 maio 2020.
CARDOSO, A. (2015). Lean em pequenas empresas – diferencial competitivo. Disponível em: https://www.2blean.com.br/category/artigos/page/2/. Acesso em: 09 jun 2020.
CARDOSO, A. (2016). O que é lean e seus resultados. Disponível em: https://www.2blean.com.br/category/artigos/page/2/. Acesso em: 09 jun 2020.
CARDOSO, A.; BRAGATTO, L.G. (2016). Logística Lean aplicada a um Centro de Distribuição – caso Antilhas. Disponível em: https://www.lean.org.br/artigos/460/logistica-lean-aplicada-a-um-centro-de-distribuicao-%E2%80%93-caso-antilhas.aspx. Acesso em: 09 jun 2020.

SANTOS, C. A. C. (2018) Melhoria de processo para diminuição de desperdício de materiais através da implantação do Lean Manufacturing.

EQUI, M. A.; PISSAIA JR, H. (2016). Revisão bibliográfica: o lean manufacturing na indústria automotiva.
FARIA, A. C.; COSTA M. F. G. (2007). Gestão de custos logísticos. 1. ed. – 2. reimpr. – São Paulo: Atlas.
FONSECA H.; CARDOSO A. (2020). Logística lean ajuda Mary Kay a melhorar e expandir negócio. Lean Institute Brasil. Disponível em: https://www.lean.org.br/artigos/660/logistica-lean-ajuda-mary-kay-a-melhorar-e-expandir-negocio.aspx. Acesso em: 09 jun 2020.
LEAN INSTITUTE BRASIL (2017). Princípios para a concepção de processos lean. Disponível em: https://www.lean.org.br/colunas/499/principios-para-a-concepcao-de-processos-lean.aspx. Acesso em: 26 de maio 2020.

MARTINS, P. G.; ALT, P. R. C. (2009). Administração de Materiais e Recurso Patrimoniais. 3 ed. São Paulo: Saraiva.

Meirim H. (2017). 7 desperdícios logísticos. Disponível em: https://www.hrmlogistica.com.br/single-post/7-desperdicios-logisticos. Acesso em: 28 maio 2020.
ROBLES, L. T. (2001) A prestação de serviços de logística integrada na indústria automobilística no Brasil: em busca de alianças logísticas estratégicas. Tese de Doutorado apresentada na USP. São Paulo.

WOMACK, J. P; JONES, D. T. & ROOS, D. (1992). A máquina que mudou o mundo. Campus. 5 ed. Rio de Janeiro.

Mariane Francis

Graduada em Engenharia de Produção – Universidade Ceuma (São Luís/MA).

Técnica em Segurança do Trabalho pelo Instituto Federal de Pernambuco (IFPE),

Voluntária no Projeto de Pesquisa Lean Healthcare da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia em Feira de Santana (UFRB). 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *